quinta-feira, 11 de julho de 2013

MANISFESTO CECS COLETIVO - 
CENTRO DE ESTUDANTES DE CIÊNCIAS SOCIAIS UFRGS

Nossa contribuição para análise e reflexão acerca da conjuntura política que estamos vivenciando na cidade de Porto Alegre desde o início do ano não dará conta de explicar, como cientistas sociais, a complexidade da dimensão alcançada dos movimentos sociais e da pluralidade das forças nas ruas.
Esse manifesto problematiza alguns aspectos que conjuntamente será levado em conta, a nossa própria experiência nessas manifestações e somando junto as frentes representadas dentro e fora da comunidade acadêmica. Assim daremos enfoque a alguns eixos fundamentais, queremos questionar e aprofundar porque estamos nas ruas, quem está nas ruas, qual a posicionamento da brigada MILITAR e como isso é reproduzido pela grande mídia.
Aqui, cabe-nos, instigar o que nos leva as ruas?
Sabemos que os grupos políticos organizados, os chamados via internet e a divulgação da violência policial foram importantes para o processo que vivemos seja de imensas proporções e de alcance nacional. No entanto, mais do que isso, ou através disso, trata-se de um problema estrutural.
 A história da sociedade brasileira é caracterizada pela ausência de diretos e ausência de oportunidades aos de baixo. Nosso entendimento parte de que a reprodução e perpetuação desse problema fora historicamente difundido seja pelas instituições políticas, seja pelo poder econômico ou mesmo pelos valores disseminados pelas elites brasileiras.
Vivemos num pais onde há uma única cultura, legítima e aplaudida e muitas culturas oprimidas, excluídas e violentadas. Vivemos num país com desigualdades estruturais de acesso aos direitos básicos como saúde e educação. Vivemos num país que prioriza a manutenção de um sistema econômico que sempre se mostrou reprodutor de desigualdades frente ao reconhecimento da diversidade entre todos os grupos que compõem nossa sociedade.
Vivemos em uma sociedade de marginalizados que sempre sofreram violência. Mas o que é violência. A quem serve a violência? De onde ela parte? Qual o seu alvo?
Para todos aqueles que estiveram presentes nas inúmeras manifestações que vem ocorrendo em Porto Alegre desde janeiro de 2013, é óbvia a necessidade de demarcar uma diferença entre a violência legitimada pelo poder político/econômico e a reação (violenta?) dos oprimidos que tem a dignidade de ousar exercer sua cidadania nas ruas em busca da concretização e afirmação dos seus direitos.
Uma frase está ficando conhecida da juventude brasileira: “não confunda a violência do opressor com a reação do oprimido”. Nós, enquanto estudantes de ciências sociais temos o dever de questionar o uso do termo ‘violência/vandalismo/baderna’ para caracterizar a reação da população pobre que se levanta para lutar pelo transporte 100% publico, e também por muito mais.
A presença cada vez mais numerosa e freqüente dos chamados ‘bondes’ nas manifestações evidencia a legitimidade desse tipo de organização da juventude marginalizada. Para além da problematização do que são e o que reivindicam exatamente esses bondes, sua atuação nas ruas sitiadas da capital gaúcha é legitima dado que as práticas que utilizam são as mesmas que sempre lhes foram apresentadas pelo braço armado do Estado nas vilas e periferias da cidade.
E é a Brigada Militar quem tem sido a principal autora da violência contra pessoas que ousam lutar. Muitos já foram os relatos de espancamentos, de abusos sexuais, de humilhações por parte de brigadianos nunca não identificados aos manifestantes. Humilhações que vão muito além da utilização de cavalos, de helicópteros e de bombas contra cidadãos. Estamos sim vendo e sofrendo ações de TORTURA por parte da Brigada Militar. O que se passa depois da detenção ilegal e injustificada dos manifestantes, nos camburões, nas delegacias, e nos presídios é algo que assusta e nos faz duvidar da democracia que vivemos. Nos faz lembrar de 1964. Temos presenciado de uma operação política/militar que sitia a cidade e provoca um absurdo clima de medo na população nos dias dos atos. E nos perguntamos, a serviço de quem está a Brigada Militar? Por duas vezes mais de 30 mil manifestantes quiseram exercer seu direito protestar e foram impedidos violentamente pelos brigadianos de chegar no solo sagrado do poder midiático na esquina da Érico Veríssimo com a Ipiranga. Está claro que a Brigada MILITAR não é preparada, sequer pensada, para proteger cidadãos mas sim para enfrentar inimigos. Está claro que para a Brigada e para a imprensa conservadora e golpista o povo brasileiro é o inimigo.
 Nossa posição quanto a Brigada MILITAR é bem clara, queremos a desmilitarização imediata, entendendo e confirmando que vivemos num estado democrático de direito que em tese deveria zelar pela população como também compreender que manifestações populares fazem parte desse estado democrático, que aliás, não tem sido efetivo ao que se propõe.
O que estamos presenciando talvez seja uma grande reação da periferia frente a uma violência sofrida historicamente, violência que agora tem como palco central o centro da cidade, aos olhos de todos aqueles que nunca antes tinham chorado por causa do gás lacrimogênio.
Afirmamos também que essa dita violência tem um importante valor simbólico. Somente aqueles que não viveram/entendem o significado das décadas de  neo-liberalismo são capazes de criticar de modo superficial  as poucas pedradas jogadas contra os bancos, instituições financeiras e grandes empresas que representam o grande poderio que manda e desmanda nas ações políticas desse país.
Reconhecemos que certas manifestações de ação direta contra pequenos comércios geram conseqüências negativas para a unidade popular pela luta das ruas, mas não podemos deixar de perceber que mesmo nessas ações desfocadas são reflexões de opressão e exploração continuas, assim como também há confirmações de agentes provocadores tanto por parte da polícia quanto por grupos de extrema direita.
Além disso, nosso manifesto também aponta e reforça que o monopólio dos meios de comunicação não é novidade nenhuma, entretanto entendemos que é imprescindível nossa postura crítica e não ingênua que esse setor hoje comanda nosso país, dita ideologias conservadoras que tentam interferir nas pautas de um movimento que é legítimo, e que além disso posiciona-se agora com um ufanismo exacerbado e despolitizado. O ápice dessa mídia é a tentativa de anular o que construímos até agora e forçar a inclusão de pautas vazias que não dialogam com a raiz do problema estrutural de nossa sociedade, as desigualdades sociais e marginalização da pobreza. Por esse motivo essa mídia corporativista e burguesa não é bem-vinda nas assembléias, manifestações e ações em geral, já que essa mídia estigmatiza e criminaliza os movimentos sociais.

Com isso, também estamos na luta pela ocupação de espaços estudantis dentro da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Na manhã de ontem ocupamos junto aos demais diretórios e coletivos estudantis o antigo Café Faced na Faculdade de Educação, e não aceitaremos mais as privatizações nesses espaços, bem como defendemos a necessidade de espaços de vivências estudantis que também possibilitem trocas e articulações entre @s lincenciand@s desta Universidade, movimento que inexiste até então.
No contexto do dia de hoje, 11 de Julho Greve Geral no país, ocupamos a câmara de vereadores na cidade de Porto Alegre, nas ruas os movimentos sociais e os sindicatos de trabalhador@s seguem fechando estradas, paralisando o transporte e as indústrias, é parte do que defendemos e apoiamos como método político legitimo.Assim, convocamos a tod@s para pressionarem o poder público a trabalharem por nossas demandas. Aqui da câmara, reafirmamos que continuaremos ocupando pelo Passe Livre municipal aos estudantes, desempregados permanecendo o direito dos idosos e deficientes, pela abertura imediata das contas das empresas de transporte fiscalizada pelo próprio bloco, pelo transporte 100% público.
Defendemos que é pela força das ruas que conseguiremos alcançar nossas vitórias, por esse motivo, o CECS coletivo afirma que não arredaremos as mãos, pés, vozes e corações das ruas e que seguiremos, debatendo, enfrentando as elites, as mídias e os governos.Resistiremos ao lado dos zapatistas, dos índigenas, dos negros, das mulheres, das crianças, dos estudantes, dos pobres e da esquerda!

Se o Estado de Exceção da Copa determina que protestos legítimos são atos de terrorismos então o CECS Coletivo é terrorista.

Porto Alegre, 11 de Julho de 2013.

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