segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Nota de posicionamento frente às eleições do CECS...

...ou Chapa 2: Por que diabos entrei nessa 

por Vicent Acrata


Muitos colegas devem ter ficado surpresos por meu recente engajamento nas eleições para o diretório acadêmico das ciências sociais, e na minha participação – e de outros anarquistas – na chapa 2, de oposição a atual gestão, defendendo um Cecs de luta e autogestionário. Pretendo ao longo deste pequeno texto colocar as minhas motivações para tal.

No último ano, Porto Alegre viu uma efervescência das manifestações populares de rua. As manifestações contra o aumento da passagem foram lindas, juntando centenas de pessoas, utilizando uma diversidade de táticas e criando o hábito de assembleias horizontais no início e no final de cada ato, através das quais definíamos os rumos do movimento. Ocorreram também as diversas ocupações dos espaços públicos, exigindo que as cidades devem ser feitas para as pessoas e chamando para a discussão os modelos de organização social, como foi o Ocupa Poa e o Largo Vivo. As atividades culturais e aulas públicas na escadaria da Borges, em frente ao Utopia e Luta, e as diversas manifestações que surgiram destes espaços, deram uma agitada no cenário político da cidade. Neste contexto também surge a Defesa Pública da Alegria, grupo ad hoc que debutou protagonizando a já histórica queda do tatu e continua até hoje realizando diversas atividades denunciando a privatização dos espaços públicos. 

Todos estes movimentos citados tiveram duas coisas em comum: primeiro, eles foram organizados totalmente de forma autônoma, sem dirigentes ou dirigidos, com a busca que todxs xs participantes se empoderem do processo e das táticas utilizando, tendo todas as suas decisões feitas em assembleias horizontais e abertas. O segundo ponto que eles tem em comum é que em todos o dito “movimento estudantil”, com suas entidades oficiais representativas, teve uma participação quase, se não totalmente, nula. Somente nos atos contra ao aumento da passagem o nosso diretório teve alguma participação junta ao DCE, e, frente ao pedido do Bloco de afastamento de Rodolfo Mohr devido as suas já clássicas tentativas de se colocar como representante do movimento (o qual ele não participou de nenhuma assembleia) frente a mídia e a polícia, resolveram retirar todo o apoio e participação do Bloco de Luta Pelo Transporte Plúblico. Agora, observem o absurdo da situação: devido a um desentendimento de um superior do partido com toda uma luta de centenas de pessoas as entidades ditas representativas dos estudantes se ausentaram de uma pauta de interesse crucial da classe que eles dizem representar. 

Este exemplo é muito revelador do tipo de atuação do pisitu e do pêssol dentro do mov. estudantil e social em geral: aquilo que eles não conseguem aparelhar totalmente, eles destroem, ou então ignoram magistralmente num primeiro momento, para posteriormente, numa falta de ética terrível, tentarem capitalizar simbolicamente em cima de lutas que eles não participaram (ex o cartaz em referencia ao Defesa Pública da Alegria, grupo que diversos interegrantes da chapa 2 integram, e nenhum da chapa 1...). São os frutos de uma nova geração de aspirantes a políticos profissionais que colocam o marketing como mil vezes superior ao trabalho de base concreto. Acho muito irônico como estes partidos que se pintam como extrema esquerda tem na sua base uma atuação muitas vezes mais reacionária do o próprio pt, atacando todo o sinal de autonomia e empoderamento das bases. 

Não mais. Queremos que o movimento estudantil entre em sintonia real com esta efervescência política e cultural que se passa em Porto Alegre, e por que não dizer, no mundo. Achamos que é dever das entidades estudantis dar suporte, apoio e disponibilizar a sua estrutura para as lutas e atividades culturais protagonizadas por seus estudantes. Como justificar a ausência do diretório das ciências sociais no ato em solidariedade aos Guaranis Kaiowás (e na organização do mesmo), sendo que muitos dos estudantes do curso dedicam suas pesquisas a antropologia indígena, uma das áreas de destaque do nosso curso? Infelizmente o nosso diretório passa longe, como uma bolha isolada do resto da sociedade, das lutas e movimento que a nossa cidade e os nossos colegas experienciam. Quem tem medo da autogestão? Apenas aqueles que não valorizam o processo, a mudança desde a base, e temem perder o controle sobre seus dirigidos. Façamos do estudante uma ameaça novamente sim, mas isto só será possível com o abandono das velhas clivagens que tanto engessam o nosso movimento.

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